Você sabe o que são as PANC?
Muricato, maracujá-do-mato, espinafre malabar e ora-pro-nóbis. Esses nomes não tão comuns podem fazer parte do nosso cardápio diário. Entretanto, essas plantas ainda são pouco conhecidas. Isso porque elas são chamadas de PANC, mas você sabe o que isso significa?
PANC é um acrônimo para Plantas Alimentícias Não Convencionais. O termo foi criado pelo biólogo Valdely Kinupp e vem sendo cada vez mais utilizado. Hoje já são mais de 10 mil espécies identificadas no Brasil.
O bacharel em Relações Econômicas Internacionais e técnico em Paisagismo Lucas Mourão tem se dedicado a divulgar o consumo das PANC no seu site e no seu perfil Jaca Verde Panc. Seu trabalho começou em 2015 depois de um mapeamento de árvores frutíferas no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que organizou com o grupo de estudos em agricultura urbana do qual fazia parte.
“Nesse encontro conheci o livro das PANC do professor Valdely Kinupp e me encantei com a possibilidade de conhecer mais sobre esse incrível universo das plantas, suas histórias, culturas e variados usos na cozinha. A partir daí, decidi que gostaria de compartilhar esse conhecimento acerca das PANC na cidade com cada vez mais pessoas, estimulando o seu uso tanto na cozinha quanto nos jardins”, diz Lucas.
Em 2016 começou a participar de feiras vendendo alimentos feitos com PANC, mas logo redirecionou seu trabalho para o enfoque da educação. “O objetivo era educar as pessoas a ver a cidade, as plantas e culturas a ela relacionadas de uma outra forma, com mais afeto, cuidado e interesse.”
O termo PANC foi cunhado por Kinupp com o objetivo de fortalecer a consciência das pessoas sobre esse imenso universo de plantas alimentícias pouco comercializado, pesquisado e utilizado pelos brasileiros. Envolve as dimensões econômica, cultural e territorial. “Por trás de toda planta existe uma história, uma cultura, e isso acho ainda é pouco falado pelas pessoas que andam usando o termo PANC”, ressalta Lucas.
O técnico em paisagismo destaca ainda é que é necessário tirar do apagamento histórico esse registro cultural dessas plantas que são conhecidas e usadas por povos e comunidades tradicionais há muito tempo. “Mas entendo que foi muito importante esse termo ser propagado para trazer à tona esse tema crucial do conhecimento e preservação da agrobiodiversidade para grande parte da população.”
O termo PANC, entretanto, é relativo. “O que é PANC pra alguém em Minas Gerais talvez não seja pra alguém no Pará, e vice-versa. É um conceito que envolve muito o conhecimento e uso regional das pessoas acerca dessas plantas”, explica Lucas. Para ele, PANC é aquela planta que é pouco conhecida das pessoas nos meios urbanos, ou pouco utilizada, ou até mesmo conhecida mas quase nada comercializada e pesquisada.
Entre os benefícios das PANC estão o fato de que são muito nutritivas, acessíveis e fáceis de cultivar em casa. “Geralmente são plantas que não são muito comuns de encontrar cultivadas ou nos supermercados. São geralmente plantas muito resistentes e ricas em fibras, vitaminas, minerais. É essencial colocá-las na nossa dieta alimentar”, exalta o técnico.
Lucas destaca ainda que existem plantas ditas “comuns” ou “convencionais” que possuem partes subutilizadas pela maioria da população urbana. “Por exemplo: o coração da bananeira, a raiz do mamoeiro, os brotos e flores da abóbora, a raiz do chuchu, dentre outros.”
Além dos benefícios nutricionais, a popularização das PANC traz um melhor entendimento sobre a importância de se preservar a nossa flora nativa, a nossa biodiversidade e os ambientes onde ela está. “E também ter um entendimento maior das nossas culturas alimentares e o enriquecimento nutricional do dia a dia, sair da monotonia alimentar”, explica Lucas.
Mas o que é a chamada “monotonia alimentar”? Lucas explica que é o que vivemos, já que nos alimentamos de pouca diversidade dentro do universo dos alimentos disponíveis para consumo. “Existe um gráfico da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) que costumo passar em minhas oficinas e cursos que mostra muito bem o que é essa monotonia em imagens: das 12000 plantas cultivadas pelo ser humano em toda a história, utilizamos apenas 12 cultivos para prover mais de 75% das nossas necessidades alimentares.”
Para o técnico, este fato é um absurdo, muito explicado pela excessiva industrialização dos alimentos, pela propaganda e consumo exacerbados de alimentos ultraprocessados. “Isso é fruto do sistema capitalista que vê a comida apenas como mercadoria e despreza o valor da agrobiodiversidade e o benefício que existe na sua preservação tanto para o meio ambiente quanto para a saúde das pessoas”, diz.
E como as PANC podem ser incorporadas no cardápio diário? Lucas explica que o primeiro passo é mudar o olhar para o cotidiano, prestando mais atenção ao ambiente que nos cerca e às possibilidades que já existem. “É possível encontrar as PANC em supermercados e feiras livres em momentos sazonais durante o ano.”
Além disso, a informação é fundamental, como ressalta o técnico. “Com um pouco de conhecimento sobre as plantas mais comuns da região, é possível encontrar grande parte delas em terrenos baldios, praças, parques e jardins residenciais. Com interesse e curiosidade é possível ir testando e incorporando as PANC no dia a dia, tanto na cozinha quanto nos jardins”, encerra.
Site: https://jacaverdepanc.com.br/
Instagram: https://www.instagram.com/jacaverdepanc/